terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O LIVRO DOS MORTOS DO EGITO ANTIGO


O "Livro dos Mortos": Origem Histórica
O "Livro dos Mortos" foi o texto funerário mais “popular” do Egito Antigo, sua história começa quando os reis da XIII dinastia deixam a sua capital It-tawy[1] subindo o Nilo retornando a Tebas (c. 1690 a.C). Nesta época os faraós e suas famílias deixaram ter acesso aos textos funerários produzidos em Mênfis e Heliópolis conhecidos como "Textos das Pirâmides[2]", sendo forçados a adotar uma nova tradição do  Alto Egito os "Textos dos Caixões[3]", cujo centro difusor pode ter sido o templo de Thot em el-Ashmunein[4].
A mudança para Tebas criou a necessidade da redação de uma nova literatura funerária que auxilia se o destino póstumo do faraó e de sua corte.
O "Livro dos Mortos" foi uma adaptação de antigos textos funerários a novas concepções, aproximadamente 60% do texto é baseado nos "Textos dos Caixões", o início desta nova tradição surge pela primeira vez no caixão da rainha Montuhetep, esposa do faraó Djehuty da XVI dinastia (c. 1648 a.C.), encontrado em uma tumba em Dra Abu el-Naga, atualmente desaparecido o caixão é conhecido somente pelas cópias de Wilkinson. Outros achados indicariam que o "Livro dos Mortos" teve a sua origem no Segundo Período Intermediário, os principais são o sudário da múmia da rainha Ahmes[5], filha de Taa II da XVII dinastia (c. 1558 a.C.) que trazia escrito uma de suas fórmulas[6]. E os fragmentos do sudário do rei Inyotef[7] também da XVII.
A julgar pelas evidências o "Livro dos Mortos" inicialmente foi destinado a sepultamentos de membros da família real, do final da XVII e início da XVIII dinastia escrito hieróglifo cursivo sobre os sudários de linho que envolviam as múmias.
Curiosamente esta preferência pelo "Livro dos Mortos" com texto funerário das rainhas e príncipes aparece séculos mais tarde na decoração das tumbas ramessidas no “Vale das Rainhas”.
A evidência mais confiável do mais antigo "Livro dos Mortos" escrito em papiro é o manuscrito de Nu[8] datado do início da XVIII dinastia, não posterior ao reinado de Amenhotep III (c. 1388 a.C.) 
A partir da XVIII dinastia tornou-se o principal texto funerário para a elite, escrito preferencialmente em papiro. Somente nos reinados de Hatshepsut e Thutmés III (c. 1479 a.C.) a prática de depositar o "Livro dos Mortos" junto ao o corpo de pessoas que não pertenciam à realeza tornou-se comum[9]. Nesta época as vinhetas que “ilustram” os capítulos ganham importância tanto na qualidade artística quanto na quantidade de vinhetas[10].
Durante o Período Saíta (c. 664 a. C.) atinge a versão canônica sendo estruturada em 165 fórmulas ou capítulos dispostos em uma ordem regular, conhecida como Recensão Saíta, que permaneceu em uso até o Período Ptolomaico quando atinge a sua forma completa com 192 capítulos.
Esta padronização das fórmulas e vinhetas (conteúdo e seqüencia) não significou uma estagnação, surge o estilo mênfita e o tebano evidenciando uma ruptura entre o Alto e Baixo Egito, onde circulavam versões diferentes para o mesmo capítulo e vinheta.
Todos os "Livro dos Mortos" são escritos em hieróglifos cursivos até a XXI dinastia (c. 1070 a.C.) quando passam também a serem escritos em hierático; na Baixa Época (c. 600 a.C.) empregam indiscriminadamente tanto o hierático quanto o demótico até o Período Romano (c. II século a. C.) quando deixa de ser o principal texto funerário, substituído pelo “Livro das Respirações” ou “Livro para Percorrer a Eternidade”.
As pesquisas sobre "Livro dos Mortos" começaram com Jean François Champollion em 1827 a partir de alguns exemplares reproduzidos na Description de l’Égypte[11], principalmente o papiro Cadet, segundo Champollion o título deste manuscrito era “Livro das Manifestações a Luz”[12].
A denominação “Livro dos Mortos” (Totenbuch)[13] foi dada pelo egiptólogo alemão Richard Lepsius em 1842 após a sua publicação de um grande manuscrito ptolomaico, o papiro de Iufankh[14]. Lepsius também foi o responsável pela divisão das fórmulas em 165 capítulos[15] que formavam a Recensão Saíta estabelecidos na Baixa Época.
Willem Pleyte em 1881 publica os “Capítulos Suplementares”[16] utilizando como ponto de partida a numeração de Lepsius apresentado os capítulos 166 a 174 datados da Baixa Época.
Finalmente em 1886, após 10 anos de trabalho, Henri Édouard Naville[17] apresenta a primeira compilação de 71 papiros da XVIII a XX dinastia, guardados em coleções européias e do Museu Egípcio do Cairo. Naville mantém a numeração de Lepsius, mas não a de Pleyte chegando a 186 capítulos da chamada Recensão Tebana, isto é aqueles utilizados durante o Novo Império.
Foi Sir E. A. T. Wallis Budge quem primeiro utilizou um título semelhante ao original egípcio “Os Capítulos para Sair ao Dia” em sua compilação de1898[18]que contou principalmente com os papiros do British Museum. Nela foram agrupados os capítulos do Novo Império com aqueles dos Períodos Saíta e Ptolomaico em uma mesma publicação, isto é os capítulos de 1 a 190, acrescentando ainda um léxico. A popularida da obra de Budge deveu-se em grande parte as belas reproduções das vinhetas dos papiros de Any e Hunefer que acompanhavam a sua tradução. Atualmente de domínio público possui incontáveis traduções em vários idiomas a despeito das inúmeras imprecisões e erros de sua tradução.
Entre 1952 e 1960 Thomas George Allen traduzindo os papiros do Oriental Institute Museum da Universidade de Chicago[19], incluiu os capítulos 191 e 192 a que correspondem ao chamado “Primeiro Livro de Glorificação de Osíris”.
Heerma van Voss em1973 com o papiro Leyden T3[20] e Terence DuQuesne em 1994 com o papiro Cairo S.R.VII 10228[21]  incluíram a lista de capítulos conhecidos o 193 e 194 respectivamente.
Ainda são poucos os manuscritos traduzidos e analisados diante do número de papiros guardados nos museus. Atualmente temos publicações sistemáticas que de certa maneira continuam o trabalho de Naville, entre elas as coleções como a do British Museum e o Museo Gregoriano Egizio du Vatican[22] já deram inicio a um programa de publicações de seus "Livros dos Mortos".
Duas grandes séries são dedicadas à publicação de papiros completos ou reunidos por períodos: Handschriften des Altägyptischen Totenbuches (HAT), Studien zum Altägyptischen Totenbuch (SAT).
Atualmente em preparação o Totenbuchprojekt[23],um banco de dados que pretende reunir os manuscritos espalhados pelos museus de todo o mundo, estabelecido pelas Universidades de Bonn e Colônia sob a direção de Ursula Rössler-Köhler e Heinz-Josef Thissen.
Temos traduções do "Livro dos Mortos" em edições de grande sucesso editorial, além da já mencionada feita por Budge, a tradução de Raymond Oliver Faulkner[24] regularmente reeditada e sua edição fac-símile do papiro de Any[25].
As boas traduções de referência usadas tanto por especialistas quanto por estudantes, além do próprio Naville, são as de Paul Barguet[26] com capítulos de épocas diferentes, selecionados de papiros da coleção do Museu do Louvre. A tradução de Thomas George Allen[27] com textos de tradição tebana, saíta e variantes da XXI dinastia de papiros de várias coleções. E a de Erik Hornung[28] que utiliza papiros do Novo Império.
Recentemente foi lançada uma tradução compilada de vários papiros da recensão tebana e saíta, feita por Claude Carrier[29], que traz também a transliteração do texto, mas que omite completamente das vinhetas e algumas rubricas importantes.

O "Livro dos Mortos": Forma e Função
Para os egípcios antigos o “Livro dos Mortos” é de origem divina e foi escrito pelo próprio deus Thot que fala pela boca do morto.
Embora a denominação "Livro dos Mortos" ainda seja a mais usada, ela nada tem a ver com o título original em egípcio prt-m-hrwLivro para Sair ao Dia”.
A preposição m raramente possuiu o sentido de direção, na maioria das vezes seu significado está ligado ao momento em que se realiza a ação isto é “durante”. A palavra “dia” (hrw) significa o momento entre o nascer e o por do sol e não necessariamente a “luz do dia”. Contudo a luz do sol, levada ao Mundo dos Mortos pelo deus Rê, é um dos elementos centrais nos textos funerários, principalmente a partir do Novo Império, o sol considerado não somente como fonte de luz e calor, mas como fonte de vida, assim sendo o título pode ser também traduzido como “Livro para Sair à Luz do Dia”.
Essa busca pelo “sair ao dia” já está presente nos “Textos dos Caixões” assim como a capacidade de entrar e sair do Mundo dos Mortos segundo a vontade do morto[30].
A finalidade geral da obra, assegurar ao morto a inteira liberdade de movimento e de ação fora da tumba, aprece resumida no título da primeira fórmula ou capítulo: “Início das fórmulas para sair ao dia, e as glorificações (para) sair depois de ter entrado na necrópole (e do) glorioso e Belo Ocidente. Fórmulas que devem ser recitadas no dia do sepultamento (e pelas quais o morto) entrará depois de haver saído[31].
Herdeiro dos "Textos dos Caixões" no conteúdo e na forma, tinha os textos escritos com tinta preta e os títulos das fórmulas e destaques escrito com tinta vermelha.
A grande inovação foi o uso do papiro, que  tornou-se o suporte material característico para o “Livro dos Mortos”. Raramente utilizado antes para os textos funerários, este material caro, mas prático, adequou-se para a redação desse novo texto formando rolos que eram colocados próximo à múmia. O papiro permitia concentrar em uma superfície reduzida um grande número de preces e encantamentos, além de vinhetas ilustrativas que garantiriam a proteção do morto.
Esses rolos de papiro possuem uma altura entre 30 a 40cm e o comprimento que varia de versões resumidas com 1 a 2m até as versões completas com 15 a 37m[32].
 O papiro não foi, todavia, suporte exclusivo para o “Livro dos Mortos”, podendo suas fórmulas e vinhetas aparecer também em paredes de tumbas e templos, sarcófagos, caixões, bandagens de múmia, estelas, estatuetas funerárias, óstracos e rolos de couro.
Ele se impôs como um dos principais textos funerários do Egito Antigo, para os primeiros egiptólogos era o equivalente à Bíblia dos antigos egípcios e o primeiro livro ilustrado do Mundo.
O “Livro dos Mortos” tem como função dar ao morto os meios de obter três condições básicas para a sua sobrevivência no Mundo dos Mortos: as preces dedicadas às grandes divindades, a regeneração e as transformações e o domínio das forças divinas por meio do conhecimento de seus nomes secretos.
Dessa forma o morto seria capaz de sair à luz do dia, de leste para oeste como o sol, continuando a sua existência, podendo rever a sua casa, proteger os seus familiares e amigos, vingar-se de seus inimigos, desfrutar das oferendas, adorar o deus sol e receber as bênçãos dos deuses. Obtendo a liberdade de locomoção e de alimentação tendo: “a felicidade no céu, a riqueza na terra e a vitória no Mundo Inferior”.
Dois grandes temas estão presentes no “Livro dos Mortos”: o primeiro é a vitória do morto no tribunal de Osíris[33], onde após negar as suas faltas, seu coração[34] é pesado e ao ser confirmada a sua inocência, ele é declarado “justificado” ou “justo de voz” esse epíteto significa que o morto satisfez as condições de Maat[35].
O outro grande tema é a transformação do morto em um espírito glorificado (akh) diante do deus Rê[36] tornando-o capacitado, assim como os deuses, a viajar na Barca Solar e a desfrutar dos Campos dos Juncos.
Desde os primeiros exemplares, esse novo conjunto de textos aparece como uma compilação de fórmulas, mais ou menos longas, repartidas em capítulos em uma sucessão que varia de papiro para papiro. Cada capítulo é precedido por um título, escrito em vermelho, que define os propósitos da fórmula. O texto é escrito em preto, traz as noções expressas no título. No final de cada texto pode vir uma rubrica, escrita também em vermelho, que especifica o modo de utilização do capítulo.
Alguns capítulos trazem após a rubrica um cólofon garantindo a sua eficácia: “funciona verdadeiramente, um milhão de vezes”.
As vinhetas são outro grande destaque do "Livro dos Mortos", elas ilustram o aspecto mais importante descrito no texto ou na rubrica. Alguns papiros, principalmente os da XIX dinastia, possuem vinhetas que são verdadeiras obras de arte e possuem um destaque ocupando a altura total da folha, como a do capítulo 16 “Hino em Louvor ao deus Rê”, do capítulo 110 “Os trabalhos nos Campos de Juncos”, do capítulo 125 “A Pesagem da Alma” e do capítulo 148 “As Vacas Sagradas”.
A sua função não é meramente decorativa e muitas vezes ou pela falta de espaço ou para encurtar o tamanho do livro servem como substituto do texto, fazendo com que muitos exemplares do “Livro dos Mortos” sejam quase que exclusivamente constituídos por ilustrações.
Existe uma grande disparidade tanto no conteúdo quanto na ordem dos capítulos, a tal ponto que não existem dois papiros idênticos, contudo existe uma preferência por determinados capítulo, considerados essenciais e que estão presentes em praticamente todos os papiros[37]. Alguns capítulos funcionam como glosa onde são apresentadas interpretações mitológicas ou teológicas o que demonstra a dificuldade dos próprios egípcios em entender os textos.
Somente por volta do VII século a.C é que surge uma versão “padronizada” para o conteúdo e para a seqüência dos capítulos.
Com base nesta padronização podemos estabelecer as grandes divisões do "Livro dos Mortos" da seguinte forma[38]:
Os capítulos 1 ao 16 temos a chegada do cortejo fúnebre à necrópole, a passagem pelas Portas guardadas por “demônios” e os hinos a Osíris e ao sol poente.
Os capítulos 17 a 63 a regeneração solar do Morto.
Os capítulos 64 a 129 a transfiguração e a regeneração do morto além do ponto focal do "Livro dos Mortos" o julgamento da alma onde o morto ao negar as suas faltas é justificado diante do tribunal divino, tornando-se capaz de sair à Luz do dia.
Os capítulos 130 a 161 onde como conseqüência de ser um justificado ele pode desfrutar da glorificação e viajar na Barca Solar pelo Mundo Inferior, será cultuado nos dias dos Festivais. Temos também uma descrição geográfica do Mundo dos Mortos e como confeccionar os principais amuletos funerários.
Em seguida temos os capítulos suplementares, presentes principalmente na Recensão Saíta.
Os capítulos 162 a 192 são fórmulas de proteção mágica e homenagens à Osíris e Rê no Mundo Inferior.
Os capítulos 163 a 167 são as “Amonianas” onde o deus-sol Rê aparece com o nome de Ámun.
O “Livro dos Mortos” marca um momento decisivo na história não somente da literatura funerária egípcia, mas do próprio ser humano diante de questões universais como a existência de uma alma imortal, as conseqüências das ações terrenas em uma vida póstuma onde os justos serão glorificados e desfrutaram da vida eterna.

Bibliografia:
ALLEN, Thomas George. The Book of the Dead or Going Forth by Day. Illinois: The Oriental Institute of the University of Chicago, 1974. (Studies in Ancient Oriental Civilization 37).
BARGUET, Paul. ‘‘Le Livre des Morts in Textes et langages de l'Égypte pharaonique: cent cinquante années de recherches 1822-1972’’. Hommages à Jean-François Champollion. Cairo: Institut Français d'Archéologie Orientale, 1972-1974.
DE CENIVAL, Jean-Louis. ‘‘Le Livre Pour Sortir le Jour’’. In: Le Livre des Morts des Anciens Egyptiens. Paris: Réunion des Musées Nationaux, 1992.
HORNUNG, Erik. Das Totenbuch der Ägypter. Zürich/München: Artemis Verlag, 1979.
LAPP, Günther. ‘‘The Papyrus of Nu’’. In: Catalogue of the Books of the Dead in the British Museum Vol. I. Great Britain: British Museum Press, 1997.
NAVILLE, Édouard. Das Ägyptische Todtenbuch der XVIII. bis XX. Dynastie aus verschiedenen Urkunden. Berlin: A. Asher & Co., 1886.
PARKINSON, R.;QUIRKE, S. ‘‘The Coffin of Prince Herunefer and the Early History of the Book of the Dead’’. In: LLOYD, Alan B (ed.). Studies in pharaonic religion and society in honour of J. Gwyn Griffiths. London: The Egypt Exploration Society, 1992.
Notas:
[1] Atual el-Lisht a 56 Km ao sul do Cairo entre as localidades de Dahshur e Meidum.
[2] Cerca de 759 fórmulas escritas nos corredores e câmaras das pirâmides de reis e rainhas da V e VI dinastia que permitiriam uma vida póstuma ao morto.
[3] Cerca de 1185 fórmulas escritas em caixões do I Período Intermediário cuja função era guiar e sustentar o morto no Outro Mundo.
[4] Capital do 15º nomo do Alto Egito. Outros centros religiosos importantes eram Assiut e Elefantina além de Deir el-Berchech no Médio Egito.
[5] Encontrado por Schiaparelli na tumba no Vale das Rainhas (QV47) e atualmente no Museu de Egípcio de Turim.
[6] Capítulo 64 escrito em hierático
[7] Fragmentos de linho atualmente no British Museum BM EA 10706
[8] British Museum BM EA 10477, Günther Lapp. The Papyrus of Nu § 5. Segundo Jean Capart seria o papiro de Bruxelas datado do Médio Império, que contém Cap. 125, 126V, 100, 102, 136A e B, contudo, este papiro pode ser datado como sendo do final da XVII ou início da XVIII dinastia.
[9] A múmia de Thutmés III estava envolta em um sudário com textos do "Livro dos Mortos".
[10] Papiro de Maiherperi Museu do Cairo CG 24095 reinado de Thutmés III
[11] Antiquités tome II Pl.60-75, 1821.
[12] Jean-François Champollion. Notice descriptive des monumens égyptiens du musée Charles X. Paris: Imprimerie de Crapelet, 1827 p.148.
[13] Do árabe Kitab al-Mayitun, denominação dada para todos os papiros encontrados junto às múmias.
[14] Museu de Turim n.1791. Karl Richard Lepsius. Das  Todtenbuch der Ägypter nach dem hieroglyphischen Papyrus in Turin. Leipzig: Georg Wigand, 1842.
[15] Por engano Lepsius separou a vinheta do Hino a Rê capítulo 15, criando o o capítulo 16.
[16] Willem Pleyte. Chapitres supplémentaires du Livre des Morts 164-174. Traduction et commentaire. Leide: E. J. Brill, 1881.
[17] Édouard Naville. Das  Ägyptische Todtenbuch der XVIII. bis XX. Berlin: A. Asher & Co. 1886.
[18] Sir Ernest Alfred Thompson Wallis Budge. The  Book of the dead : The Chapters of coming forth by day. London: Kegan Paul, Trench, Trübner & Co., Ltd, 1898.
[19] Os papiros Ryerson (OIM 9787R) e Milbank (OIM 10486M). Thomas George Allen. The  Egyptian Book of the Dead : Documents in the Oriental Institute Museum at the University of Chicago.Chicago: The University of Chicago Press, 1960.
[20] Heerma van Voss. ”Religion und Philosophie im Totenbuch des Pinodjem I, in Ursula  Verhoeven. Religion und Philosophie im Alten Ägypten: Festgabe für Philippe Derchain zu seinem 65. Geburtstag am 24. Juli 1991. Leuven: Departement Oriëntalistiek - Uitgeverij Peeters, 1991.
[21] Terence DuQuesne. At the Court of Osiris : Book of the Dead spell 194. A rare Egyptian judgment text. London: Da'th Scholary Services/ Darengo Publications, 1994. 
[22] Giuseppina  Lenzo Marchese.  Manuscrits hiératiques du Livre des Morts de la Troisième Période Intermédiaire: papyrus de Turin CGT 53001-3013. Genève: Société d'Égyptologie, 2007.
[23] http://www.totenbuch-projekt.uni-bonn.de/
[24] Raymond Oliver Faulkner. The  Book of the Dead. New York: The Limited Editions Club, 1972.
[25] Raymond Oliver Faulkner. The  Egyptian Book of the Dead: The Book of Going Forth by Day. Beign the Papyrus of Ani. San Francisco: Chronicle Books, 1998.
[26] Paul  Barguet. Le Livre des Morts des anciens Égyptiens: Introduction, traduction et commentaire. Paris: Éditions du Cerf, 1967.
[27] Thomas George Allen. The  Book of the Dead or Going Forth by Day: Ideas of the Ancient Egyptians Concerning the Hereafter as Expressed in their Own Terms. Chicago: The University of Chicago Press, 1974.
[28] Erik Hornung. Das  Totenbuch der Ägypter. Zürich/München: Artemis Verlag, 1979.
[29] Claude Carrier. Le Livre des Morts de l’Égypte Ancienne. Paris: Cybele, 2009.
[30] CT II 91a(B4C) e CT II 121a (T1L)
[31] Papiro de Any British Museum BM EA 10470
[32] Papiro Greenfield British Museum BM EA 10554
[33] Capítulo 125
[34] O coração é o órgão do renascimento, onde está a memória e o intelecto. Ele faz a ligação entre os elementos espirituais e físicos que compõem o ser humano.
[35] O julgamento do morto (psicostasia) é realizado na “sala das duas Maat”, divindade que representa a Ordem Divina e a justiça terrena.
[36] Capítulos 100 a 102 e 129 a 136
[37] Capítulos 1, 17, 64, 78, 99, 125, 144-149
[38] Paul  Barguet. Op cit pags. 15-16.



Texto adaptado de:
BRANCAGLION JR, Antonio. “O Livro dos Mortos do Egito Antigo”. In: RUGGERI, Maria Carolina Duprat (org.). Seminário de Pesquisa em História da Arte – Caderno de Pesquisa II. Curso de Especialização em História da Arte, FAAP, São Paulo, 2009.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

From Egypt To Brazil: An Egyptian Colletion In Rio de Janeiro


Despite Bonaparte’s Egypt Campaign was a military success, it was also a victory of the human spirit: the world rediscovered the Ancient Egypt. One of this military campaign results, The Rosetta Stone, permitted to Jean-François Champollion find the key to the hieroglyphic written and other was the publication of the first great work about the land of the pharaohs: Description de l’Égypte.
The great interest Ancient Egypt awoke in Europe come to Brazil brought by Dom Pedro I, the Emperor of Brazil in that days, and José Bonifácio, his Minister and Counsellor, who bought an Egyptian antiquities collection to Museu Real, in an auction,  from an Italian merchant named Nicolau Fiengo (1826). By this way, he created the most ancient and, probably, important Egyptian collection in South America.
We do not know the exactly origin of this collection. We only know Fiengo brought it from Marseilles and he stated it was one of Giovanni Battista Belzoni’s works, a famous dealer who was dedicated into lucrative dealing of Egyptian objects which provided great museums and collections. Belzoni states this objects was found in his “excavations” in Karnak, the “Realm of Amun”, and in Teban necropole. This provenance will be confirmed because a great deal of the objects from this collection, bought by Emperor Dom Pedro I, have had belonged to Teban priests and officers.
The interest in Ancient Egypt continued, but stronger, into his son and successor, Dom Pedro II. The passion for oriental languages and philosophies lead Dom Pedro II to two voyages to Egypt[1]. In his first voyage to Europe and Egypt (1871) Dom Pedro II met Emmanoel Rougé, Curator of Egyptian Collection - Louvre Museum. Brazillian Emperor, Dom Pedro II, asked for Mr. Rougé his publications.
In Egypt he met Auguste Mariette who, a few years before, had created the first Egyptian Antiquities Museum in Egypt, the Bulaq Museum, and his assistant Émile Brugsh, whose Emperor called “my friend”.

Dom Pedro II and his entourage visiting Giza with Mariette and Émile Brugsch.

Later, both, Mariette and Brugsh, were decorated with Ordem da Rosa (1874). In this voyage Dom Pedro II and Imperatrice Tereza Cristina visited São Pedro’s Church when they went to Alexandria. This church was built next Consulate General of Brazil in substitution to the Consular Chapel of the Empire of Brazil, consecrated by the Patriarch of Antióquia, Alexandria, Jerusalem and the whole East. This Chapel showed up until 1957 the imperial coat of arms when it was substituted, in its lateral facade, by Brazillian Republic's shield.
When Dom Pedro II went back to Egypt, into to his second voyage (1876), he returns to the Bulaq Museum in companion of Mariette, before the great flood of the Nile (1878) that destroyed numerous objects of the Museum. The Emperor embarked in a voyage, by the steam-boat Feruz, going up the Nile. This voyage resulted two books of notes with meticulous observations of the monuments showing his knowledge of the history and the Egyptian language[2].
In some moments, inspired by the ruins, his notes are intermixed by poetic observations. Just when he was leaving the Temple of Karnak, taken by the admiration caused by the ruins, he going up the pilono to observe sunset in the other bank of the Nile and turned his thought to the “Creative God of Everything that is Beautiful” thinking about his “two homelands”, one of the heart and other of the knowledge, Brazil and France. The notes were made in French so that they could be examined by Mariette.
Dom Pedro II got ready for a third voyage to Egypt, but it was impeded because he was exiled, however, he never left his interest in East, mainly for Egypt. Few weeks before his death he had ordered to someone buy in Paris works that helped him to translate The Holy Bible and The Thousand and One Nights, and works about Egyptology that maintained him updated.
Because the Proclamation of the Republic the Museu Real became Museu Nacional (1892), located in the Quinta da Boa Vista Palace, where it stays until today. Nowadays it belongs to Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) and the Egyptian Collection is under curatorial service of Department of Anthropology, Archaeology section.
The Museu Nacional Egyptian collection have more than five hundred objects, approximately half of them are exposed and the other half remaining kept in its store rooms. This collection have works of great artistic and archeological value as the beautiful III Intermediate Period and Late Period coffins of priests Hori, Pestjef and Harsiese. An important collection of stelae, most of them probably proceeding from Abidos, dating Middle and New Kingdoms. We can stand out the XIX Dynasty stelae of Raia and Haunefer that show titles of semitic origin present in The Holy Bible and in cuneiforms tablets from Mari, and the unfinished Roman Period stele attributed to Emperor Tibério.  Equally interesting is a statuette in painted limestone that represents a young woman with an ointment cone over the head, one of rare examples known of this serie of sculpture, because these cones are almost known exclusively in paintings and reliefs and not in sculptures.
Alberto Childe (Dimitri Petrowitch Vanitzin, 1870-1950) was nominated Curator of the Museu Nacional in 1912 and, about twenty years, took care about the collection. He made the first work about this Egyptian objects[3]. Between 1922 and 1932 he published specific articles about some objects in Publicações Avulsas do Museu Nacional.
In a series of conferences for South America, Jean Capart, obtained some pictures of the collection and now they are at Fondation Égyptologique Reine Élisabeth.
Hermann Ranke translated personal names from several stelae and published them in his Die Ägyptischen Personennamen (1935-52). Hermann Grapow translated, mainly the Middle Kingdon stele, and as collaborator of Adolf Erman published it in the great dictionary Wöterbuch der Ägyptischen Sprache (1926-31). Baudoin van de Walle published the stele of Sahi (XII-XIII Dynasties) in Revue d’Égyptologie (1963/3) and recently Alan R. Schulman published the fine low relief fragment of a votive chapel of Meriptah (XVIII Dynasty, Amenhotep III) in Journal of the American Research Center in Egypt (1963) and the stele of Bakenwer in Biblioteca Orientalis (1986/43). The only one sistematic study from Museu Nacional Egyptian collection was made by Kenneth A. Kitchen. Catálogo da Coleção do Egito Antigo existente no Museu Nacional, Rio de Janeiro.
Dom Pedro II received, in his second voyage to Egypt (1876), as a present from Quediva Ismail Pacha, Muhammad Ali grandson, a beautiful coffin incorporate to the collection of the Museu Nacional. Dom Pedro II kept this coffin at his cabinet as a decoration.
This magnificent XXIII Dynasty coffin, although its decoration will indicate XXII Dynasty[4]: it is in wood, probably sycamore tree (Ficus sycomorus L.), plastered and its decoration painted in polycrome on a white ground. The coffin face is rosy, like natural skin, the blue painted wig is decorated with wings framing the face.

Sha-Amun-em-Su's coffin - upper part and resotred area.

Most of the decoration is green, yellow and red. Over the chest standing out a great falcon-head figure, and the traditionals funerary gods and the “fetish of Abydos”. The lower thorax has marks of a libation which probably flowed to its laterals indicating its horizontal position.

Sha-Amun-em-Su's coffin - libation marks.

The back of the coffin have a large Djed-pillar surmonted by plumes and a sun-disc. Two Ba-birds are perched on top of the Djed-pillar[5]. The coffin still closed and the lacking feet-board allow us to observe the mummified body in it.

The mummy can be seen inside Sha-Amun-em-Su's coffin.

The few inscriptions identify the coffin as belonging to “Songstress of the Sanctuary of Amun” Sha-Amun-em-su (Inv.532). K. A. Kitchen proposed, Sha-Amun-em-su, can be the same person who adopted Merset-Amun, prince Osorkon’s daughter and pharaoh Takelot’s grand-daughter, as will be “Songstress of the Sanctuary of Amun”, in Karnak. Merset-Amun’s coffin is at Cairo Museum (CGC 41035)[6]. Nevertheless, this is a question will be still better studied.
According to a tradition this coffin, which was kept in vertical position at Dom Pedro II’s cabinet, during a storm a violent wind have forced open the window and damaged the lateral part of the coffin at the bottom thorax. Lately the coffin was restored, but unfortunately do not exist any information about when or who did the restoration and the decoration of the damaged parts, including Duamutef and Qebehsenuef’s figures[7], although this coffin’s damages do not confirm the history.
Nowadays exhibited in new Egyptian Room at Museu Nacional, the coffin of the “Songstress of Sanctuary of Amun” Sha-Amun-em-su is in more suitable conditions than several years before, but this coffin and other Egyptian objects from the collection, mainly mummies and other coffins, need an urgent restoration and clean process when more detailed studies about this collection would be done.
We have to take in consideration which this collection have some particularities. It is, with National Museum of Havana (Cuba), one of the only Egyptian Antiquities Collection in tropical climate, and require special attention. Only Brazil[8] and Australia.

Notes:

[1] F. M. Santos. “Aspectos da Primeira Viagem dos Imperadores do Brasil a Europa e Egito (1871-1872)”. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro 188 (Rio de Janeiro, 1945), pp. 55-91.
[2] A. de E. Taunay. “D. Pedro II. Viagem ao Alto Nilo, em 1876”. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro 72, (1912), part 2.
[3] A. Childe. Guia das Collecções de Archeologia Clássica do Museu Nacional do Rio de Janeiro. (Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1919).
[4] S. Ikram and A. Dodson. The Mummy in Ancient Egypt Equipping the Dead for Eternity. (London, 1998), pp. 175-76.
[5] K. A. Kitchen had described them as two falcons. K. A. Kitchen. Catálogo da Coleção do Egito Antigo existente no Museu Nacional, (Rio de Janeiro/ Warminster, Aris & Phillips, 1988), 2 vols.
[6] K. A. Kitchen. Catálogo da Coleção do Egito Antigo, (Rio de Janeiro/ Warminster, 1988).
[7] Unfortunately the damages in this part of the coffin difficult verify if the names of these two Son of Horus was swapped, which occurs sometimes in XXII Dynasty coffins.
[8] About other Egyptian collections in Brazil: A. Brancaglion. “Les Collections Égyptiennes au Brésil” in E. Delange. Catálogo da Exposição Egito Faraônico Terra dos Deuses 27/09/2001 - 07/04/2002. (São Paulo/Rio de Janeiro, Takano, 2001), pp. 20-27.


Text adapted from:
BRANCAGLION JR, Antonio. "From Egypt To Brazil: An Egyptian Colletion In Rio de Janeiro". In: ELDAMATI, Mahmoud & TRAD, Mai (eds.). Egyptian Museum Collections Around the World. Studies for the Centennial of the Egyptian Museum, Cairo. Cairo: Supreme Council of Antiquities, 2002. pp. 155-162.